31 de maio de 2011

A urbanização e o dia-a-dia da terceira idade

Hoje quando cheguei à casa do meu pai me surpreendi com um terreno vazio logo na esquina. Lá, durante anos e anos, foi um açougue. Ao lado era uma lojinha "tem tudo" e do outro lado o bar do Seu Zé. Nem sei se o nome dele era esse, mas ele sempre foi chamado assim, por todos. Foi uma sensação estranha de perda de referências e de parte da história da minha vida.

A mudança pela qual as cidades estão passando, principalmente os grandes centros urbanos, tem atingido, "em cheio", a vida das pessoas da terceira idade.

Quanto mais velha é a pessoa, mais importante é o local em que ela mora. É nele que estão os laços afetivos, cultivados durante anos.

O fechamento de um pequeno comércio não significa somente a necessidade de buscar outro lugar para comprar o mesmo tipo de mercadoria. Significa também a ruptura no convívio cotidiano com as pessoas que lá trabalhavam, o fim de um ponto de encontro com outros moradores, o fim de uma atividade prazerosa do dia-a-dia, e o fim da "fonte de informações da vida alheia".... também conhecida como "fofoca do bairro", adorada por alguns.

Saber quem é a pessoa que estará atrás do balcão, ser recebido pelo jornaleiro que o chama pelo nome, ser avisado pelo padeiro que o pão naquele dia está do jeito que gosta, o barbeiro que conhece o corte do cabelo, a manicure que é a "psicóloga" semanal é extremamente aconchegante. São estes profissionais e suas atitudes que trazem à pessoa a sensação de segurança e conforto. E convenhamos....não há como criar o mesmo grau de relacionamento com, por exemplo, o atendente de um supermercado. E se você estiver sem carteira então? Eles nem sabem o que é a tal caderneta!!! Ou paga ou não leva...nem pensar em pagar na semana que vem......

Além das pessoas com que se mantém um relacionamento, mesmo que silencioso, sem muita conversa, há também a ligação afetiva ao local propriamente dito. Saber onde mora ou morou tal pessoa, lembrar dos eventos na praça, o cinema onde se viu filmes famosos, e tantos outros lugares que possuem sua história e carregam a memória de anos.

Com o aumento populacional contínuo, o número de habitações necessárias se torna maior. Em um terreno onde se encontravam 5 ou 8 casas (residenciais e/ou comerciais) de bom tamanho é possível construir uma torre com 15 andares e 4 apartamentos por andar. Ou seja, este mesmo espaço passa a abrigar pelo menos 60 famílias.

Em busca de uma melhor qualidade de vida, as pessoas preferem morar em bairros, onde há melhor oferta de: trabalho, comércio, serviços, transporte, instituições de ensino e de saúde. Estas pessoas tentam evitar locais distantes, fugindo assim do trânsito e da violência (que é maior na periferia). Ou seja, quanto mais caótica fica a situação de uma cidade, maior é a procura por moradia nas áreas "mais nobres".

Ironicamente quanto maior é o caos em uma cidade, maior é o lucro das construtoras com os empreendimentos lançados nestas regiões. Esta preferência por bairros com melhor infra-estrutura é também aplicada aos prédios comerciais.

Visando atender a este crescente mercado, as construtoras compram imóveis residenciais e/ou comerciais e os "levam ao chão" em dias, logo depois é colocam um tapume e uma placa "breve lançamento!!" Passados alguns anos lá está um belo prédio residencial ou comercial, quando não um shopping....

As referências vão, desta forma, desaparecendo aos poucos... não há mais os "amigos comerciantes" para conversar e relembrar as histórias do bairro, acaba a compra na caderneta, não há mais os filhos dos moradores e comerciantes brincando juntos na rua, sem preconceito!!!! A casa da D.Maria, do Seu João, e de tantos outros não está mais lá, nem eles.... para onde se mudaram?

Estes mesmos sentimentos de perda surgem quando a pessoa mais velha é obrigada a mudar de endereço, indo para um local distante daquele em que sempre ou quase sempre morou. Vários são os motivos que fazem a mudança necessária: pode ser porque a casa ficou grande demais, ou foi comprada por uma construtora, ou os filhos querem ficar mais próximos, ou porque é mais seguro morar em um apartamento.....

É justamente esta sensação de perdas (em vários aspectos), causada pela modificação do entorno ou de uma mudança de endereço, que preocupa os profissionais que trabalham com os mais velhos. Isso porque as pessoas deixam de ter motivação para desenvolver as atividades cotidianas, vão se sentindo cada vez mais solitárias e não se esforçam para criar novos laços afetivos. Este conjunto de fatores leva muitas à solidão e consequentemente a depressão, um dos maiores males da terceira idade.

Por isso recomendo que, se você tiver necessidade de mudar de endereço, o ideal é procurar por outro que seja o mais próximo possível daquele onde passou os últimos anos. Se for necessário mudar para um lugar realmente diferente, procure um que você já conheça, com o qual possua afinidade, e melhor ainda se escolher um em que já possui laços afetivos com os demais moradores e/ou com a região.

Por outro lado, pondere..... por mais que o bairro esteja mudando; com o surgimento de centros comerciais, prédios e academias, por exemplo, o ideal é que você não pense em deixá-lo, pois é mais fácil se adaptar às modificações que ocorrem no decorrer dos anos do que recomeçar toda uma rotina em um lugar novo. Sempre sobram vizinhos, comerciantes e colegas de bairro. É um lugar onde você circula tranquilamente, conhece as ruas, sabe onde encontrar o que precisa, sabe qual transporte público atende a região e tantas outras "coisinhas" que te deixam tranquilo e seguro.

Não mude se não precisar, mas se mudar procure ficar perto de onde sempre esteve.....

Boa noite!!

Se você tem dúvida sobre o tema ou alguma história para contar, faça via comentário ou  mesmo por e-mail:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Visitantes